(Fotos de Ronaldo Gutierrez)
Imagine-se em sua sala, numa tarde de domingo, você olha pela janela e seus vizinhos estão com visitas, eles são sujeitos diferentes e destoam. Você, como bom colhedor de informação, não fofoqueiro, resolve ir ver mais de perto.
É assim que você irá se sentirá ao assistir “O Jogo de Anne”, em horas como um vizinho enxerido - principalmente se sentar na lateral (o que eu recomendo), em outras como um telespectador de uma sitcom, isso por conta das quebras que acontecem durante todo o espetáculo.
A história se passa em Miami, na confortável residência de um casal que recebe outro vindo de Israel. As esposas são amigas de longa data, mas estão há anos afastadas, e os maridos são completamente opostos.
Apesar de ambos serem judeus, o casal vindo de longe, interpretados por Dinah Feldman e Ernâni Sanchez, são ortodoxos, enquanto os anfitriões, Rita Pisano e Alexandre Roit, são laicos.
A trilha feita por Morris, nos faz ter uma leve estranheza, é como um afastamento repentino que nos obriga a encarar todos como uma espécie de cartoon. Mas essa sensação vai se resolvendo e se mesclando com a intimidade que é criada entre os atores e a plateia.
O cenário de Chris Aizner auxilia nesse atmosfera que o espetáculo cria trazendo o gênero literatura em cena. Os espaços abertos, as cores e a versatilidade são chave para o desenrolar da dramaturgia de Heitor Goldflus.
O jogo final, que da nome a peça, nos coloca em cheque e obriga a nos afastarmos das figuras, que nesse ponto, já são nossos velhos conhecidos, e refletir sobre as questões tocadas, principalmente no sentido de que talvez nem nós mesmos fôssemos capazes de ganhar o jogo. No fundo não é mais sobre religião, é muito mais sobre humanidade.
Por Isabel Branquinha
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