Espetáculo aborda saúde mental, racismo estrutural e ancestralidade através da história familiar de Jéssica Barbosa.
Após uma jornada emocionante e envolvente, "Em Busca de Judith", o aclamado espetáculo protagonizado pela atriz Jéssica Barbosa, entra em sua última semana em cartaz no Sesc Ipiranga. Esta é a última chance de conferir a produção que estreou no dia 9 de agosto e que vem encantando o público com sua abordagem sensível sobre saúde mental, racismo estrutural e a busca por identidade e ancestralidade. Com sessões às sextas, às 21h30, e aos sábados e domingos, às 18h30, a peça encerra sua temporada no dia 1º de setembro. Ingressos ainda estão disponíveis com valores que variam de R$ 15 a R$ 50, podendo ser adquiridos no site do Sesc São Paulo.
"Em Busca de Judith" parte de uma história familiar real e tocante: Jéssica Barbosa descobriu, aos 32 anos, que sua avó, Judith Alves Macedo, mulher negra e mãe de cinco filhos, foi internada compulsoriamente em um hospital psiquiátrico na Bahia nos anos 40, onde permaneceu até sua morte. Este evento desencadeou uma profunda investigação sobre as fronteiras da saúde mental e as complexidades do racismo estrutural que permeiam nossa sociedade.
No palco, Jéssica Barbosa alterna entre o relato biográfico e interpretações de personagens marcantes, combinando narrativas de antigas fábulas com a teatralidade cômica que traz leveza ao tema denso do espetáculo. Com direção cênica e musical de Pedro Sá Moraes, a peça é acompanhada por uma trilha sonora original que intensifica as emoções da narrativa.
A música desempenha um papel fundamental na peça, com canções compostas por Pedro Sá Moraes e interpretadas ao vivo por Jéssica, acompanhada pelo cantor e multi-instrumentista Muato e o percussionista Alysson Bruno (alternando com Loiá Fernandes). A conexão entre corpo e voz, som e movimento, dá forma a uma linguagem cênica conhecida como Teatro Canção, uma abordagem inovadora que Pedro Sá Moraes vem desenvolvendo ao longo de sua carreira.
A musicalidade também sublinha a busca de Jéssica por suas raízes, trazendo toques e cantigas para Orixás e Inquices, que se integram à narrativa como uma conexão espiritual essencial para a compreensão da história de sua avó e da própria história de tantas pessoas marginalizadas pelo sistema manicomial.
O espetáculo é descrito por Jéssica como um "ebó", termo em Yorubá que significa um alimento sagrado oferecido com o propósito de reequilíbrio. Essa analogia reflete o compromisso da atriz com a coletividade e a conexão espiritual que permeia a obra, tornando "Em Busca de Judith" uma experiência transformadora tanto para os espectadores quanto para seus criadores.
Com um cenário minimalista e figurinos inspirados em tecidos de origem africana, o espetáculo cria um ambiente que é, ao mesmo tempo, íntimo e profundamente simbólico. As projeções das ruínas da Colônia Juliano Moreira ao fundo trazem concretude histórica à narrativa e ampliam a discussão sobre os efeitos do racismo e da exclusão social na saúde mental.
Com duas indicações ao Prêmio Shell — Melhor Atriz e Composições Originais — "Em Busca de Judith" destaca-se não apenas por sua qualidade artística, mas também pela relevância dos temas que aborda. Em um momento em que retrocessos ameaçam os avanços conquistados pela Reforma Psiquiátrica no Brasil, o espetáculo clama pela preservação do tratamento humanizado para pessoas com transtornos mentais e pela valorização da diversidade e da diferença como pilares de uma sociedade mais justa.
Esta é a última semana para assistir a "Em Busca de Judith" no Sesc Ipiranga. Não perca a oportunidade de vivenciar essa obra que combina arte, política e espiritualidade de maneira singular e emocionante.
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